Texto por Lucas Portilho
(Correspondente HouseMag & Drumnbass.com.br no Tomorrowland Brasil 2016)

Fotos por Danilo Alves aka DANS.


Da timidez à euforia. O começo das apresentações no palco dedicado ao Drum and bass ficou sob a responsabilidade dos mauaenses Andrezz e L-Side.
A dupla chamou a atenção dos presentes com a faixa produzida por L-­Side e recém lançada pelo selo britânico V Recordings. A música "Killer Transmissions feat. T.R.A.C." foi, inclusive, tocada diversas vezes pelos artistas que se apresentaram no palco “DJ Marky & Friends” durante a segunda edição do Tomorrowland Brasil.

Na sequência, DJ Patife, com um grande sorriso no rosto, mostrou toda a sua brasilidade e simpatia ao tocar releituras de músicas brasileiras. O inglês MC Stamina acrescentou rimas – e frases em português – durante a apresentação do brasileiro provocando um aumento da participação dos fãs das batidas quebradas.










No final da tarde, DJ Andy jogou a pista no chão com um repertório recheado de clássicos. O público foi a loucura no momento em que o paulista abriu os canais para a faixa “It’s A Secret”, um hit produzido pelo produtor de drum and bass britânico, Hazard.
Paralelamente, ao anoitecer, as projeções desenvolvidas especialmente para o palco começaram a ser exibidas. Robôs, dragões, esculturas maias, astecas e figuras indianas são exemplos de ilustrações gráficas em alta definição que foram mostradas ao longo das apresentações noturnas.


Dando continuidade ao line­ up, o primeiro deejay set internacional ficou ao encargo de One87. O artista – que é responsável pela assinatura do palco Star Warz no Tomorrowland Bélgica – quebrou um pouco das vibrações energéticas emitidas pelo trabalho do brasileiro DJ Andy.

Com mixagens técnicas e faixas extremamente melódicas, Jurgen agradou aos ouvidos daqueles que são apaixonados pelo liquid drum and bass.

DJ Marky – dono da assinatura do palco – foi o último deejay nacional a se apresentar. Reunindo o maior número de espectadores – eufóricos diga­se de passagem – o herói do drum and bass nacional mostrou o seu trabalho ao lado de Stamina MC, que retornou ao palco com frases animadas como: “vai deejay! Vai deejay! Vai!”, além de rimas em inglês que se adequavam com as faixas tocadas pelo artista brasileiro. O destaque da sua apresentação foi o momento em que o remix da faixa “Baby Baby” – do duo Tropkillaz – agitou todos os presentes misturando trap music com drum and bass.



Para as útlimas horas do festival, o último “maestro” do stage “DJ Marky & Friends” foi ninguém mais, ninguém menos, que o “pai” do drum and bass: DJ Hype. Dono de uma das maiores gravadoras dedicadas ao gênero, a Playaz Recordings, o artista britânico fechou o Tomorrowland Brasil com chave de ouro tocando uma série de jump­ ups d’n’b. Apesar do número de pessoas conferindo o trabalho do artista ter sido tímido, quem estava presente demonstrou entusiasmo pela volta do produtor e deejay à terra verde e amarela.


Terra do Amanhã:

Sabe­se que o festival Tomorrowland é um evento que tem como foco a eletronic dance music,​ porém existe uma abertura clara para outros gêneros, como, por exemplo: h​ardstyle,​ trance, psy­trance, trap music e o próprio drum and bass. Em 2015, DJ Patife, DJ Marky, Netsky, MS2, S.P.Y., One87 e Ed Rush compuseram o time de artistas representando o gênero d’n’b na edição brasileira do evento.

No mesmo ano, o artista que mais chamou a atenção do público foi o produtor, Netsky. Com faixas que conversam intimamente com o gênero predominante no Tomorrowland, o electro house, o belga foi o artista encarregado por garantir o maior número de pessoas conferindo o seu deejay set. Se não fosse a energia do brasileiro DJ Marky para levantar o público após Netsky, o reflexo desta situação seria um intenso esvaziamento da pista de drum and bass na sequência da apresentação do estrangeiro.

Um ano depois, de acordo com Jorge Lima, que esteve nas duas edições do festival, o evento apresentou um melhoramento de “200%”. Mais conhecido na cena de drum and bass como Unreal, o paulista aponta a organização, a logística e a sinalização (com placas e mapas identificando a localidade dos palcos) como as principais melhorias. Sobre os stages, ele indica que os temas e a qualidade de áudio apresentou uma diferença “gigantesca com base no ano passado”.

Mesmo com um line­ up repleto de referências para o cenário de drum and bass nacional e internacional, a situação do esvaziamento de público durante as apresentações se repetiu. É natural que o número de pessoas agraciando um determinado palco em um festival aumente com o passar das horas. Isto acontece por diversos motivos, dentre eles: o cansaço após três dias de evento. Portanto, é aceitável que a pista esteja relativamente vazia durante as primeiras mixagens. Mas, ao observar o desenvolvimento da audiência no palco de drum and bass, pode­se dizer que o gênero não estava na mesma sintonia que as atrações de outros palcos.

“Por maior que seja o trabalho em promover o drum and bass – ou qualquer gênero da música eletrônica no Brasil – sabemos que o Tomorrowland se resume em Main Stage. Tornando, assim, os outros palcos como ponto de descanso ou de passagem”, observa Unreal. Mesmo assim, de acordo com o produtor e deejay, algumas pessoas que estavam de passagem pelo palco “DJ Marky & Friends” se interessaram e ficaram na pista para conferir as atrações. “Era perceptível o fato de que as pessoas que tinham pouco – ou nenhum – contato com o gênero estavam se divertindo muito, entendendo ou se esforçando para entender”, destaca.

Seria a localidade do stage o maior entrave para que o público pudesse estar mais presente nas apresentações dos artistas de drum and bass?
O palco “DJ Marky & Friends” estava justamente entre a Dynamic e a Luv N Beats, dois espaços com inúmeros fãs de techno. Se considerarmos apenas o público curioso e transiente, de fato o palco de d’n’b não estava chamando a atenção das “pessoas do amanhã”.
Porém, e o público do drum and bass? Aonde estavam?

Seria a popularidade do gênero no país? Neste ponto fica convincente que a electronic dance músic possui uma agenda ativa na mídia brasileira, tornando o electro house, techno, deep house e outros gêneros dançantes mais acessíveis para a população. Todavia, existem canais especializados de drum and bass que cobrem uma diversidade de eventos organizados ao longo do ano em variados estados e cidades do Brasil.
Estas ações não estariam tornando o drum and bass mais relevante para as massas?

De acordo com o responsável artístico da edição brasileira do festival, Edo Van Duijin, existe a compreenção de que o drum and bass não está no topo das notícias atualmente, “mas o gênero continua com uma sólida e dedicada base de fãs que compareceram ao festival para prestigiar DJ Marky, DJ Patife, DJ Hype, DJ Andy, entre outros”, aponta e considera: “nosso comprometimento com o palco "DJ Marky & Friends" está alinhado com a filosofia de apoiar diferentes gêneros e estilos musicais, proporcionando uma experiência musical completa para os fãs”, garante.

Podemos levantar uma série de questões para justificar o “êxodo” do público no palco “DJ Marky & Friends”. Contudo, o fato de um dos artistas mais relevantes para o cenário de drum and bass do mundo – e dono de um dos maiores selos – ter tocado para apenas 20 pessoas no final do Tomorrowland, “não fecha a conta”.
No mesmo horário Dimitri Vegas & Like Mike tocavam no Main Stage, Solomum na Dynamic Records, Kolombo na Luv N Beats e Yves V na V Sessions. Artistas renomados e reconhecidos nas suas áreas de atuação e com um público notóriamente presente. A mesma representatividade ocorria no palco de drum and bass com a presença do DJ Hype, mas, apesar disto, o número de pessoas engajadas nos outros palcos era assustadoramente maior.
Em tese: apesar do line­up deste ano ter sido marcado por artistas de peso para o cenário nacional e internacional de drum and bass, o público não estava massivamente presente para tornar o palco uma verdadeira celebração.
Contudo, a participação do público foi notoriamente calorosa se observarmos “o lado cheio do copo”. Pessoas com cartazes homenageando DJ Andy; diversos artistas nacionais e internacionais marcando presença; e fãs dançando, gritando e assobiando para cada mixagem realizada pelos artistas, demonstram a notoriedade do drum and bass para o universo da música eletrônica. Mas, infelizmente – ou felizmente – o gênero permanece underground para festival Tomorrowland Brasil.

CLIQUE AQUI e confira as fotos da tenda DJ Marky & Friends no Tomorrowland Brasil 2016.

A cobertura do palco “DJ Marky & Friends” é uma parceria entre HouseMag e Drumnbass.com.br.