For English version, click here

Por Andrew Santos.

Desde a licença da marca “Movement” na noite do Arena, no final dos anos 90, Bryan Gee é uma das figuras mais importantes para a cena do Drum´n´Bass brasileiro.
Todas suas inúmeras visitas ao Brasil são sempre um sucesso. Ele é um verdadeiro caça-talentos.

Foram lançados hits maravilhosos por meio dos selos de Bryan Gee (V Recordings, Chronic e Liquid V), tais como o remix da faixa "Fighter" feito por Unreal, "Touch the Sky", por Critycal Dub, "Ghetto Sound", por Level 2, além das imortais “LK” (Carolina Carol Bela, por DJ Marky & XRS) e “Só tinha de ser com você” (Fernanda Porto, ESOM & Dj Patife), que colocou o Brasil dentro da cena mundial do Drum and Bass.

Desde a primeira geração com Dj Marky, Patife, XRS e Andy até os dias de hoje com Critycal Dub, L-Side, Andrezz, Chap, Level 2, Unreal, Young G, Jam Thieves e Subsid, Bryan é considerado uma ponte entre os produtores brasileiros e o mercado internacional de D&B. Confira a entrevista com essa lenda viva, que irá se apresentar na Forbass & Tendence, no dia 28 de fevereiro @Trackers Tower.

Drumnbass.com.br: Bryan, todos os seus fãs brasileiros esperam por essa gig desde o ano passado, sentimos que todas as vezes em que você se apresenta aqui é como se fosse a primeira, com a mesma intensidade e expectativa. Como você se sente quanto a isso? Para você também é assim?
Bryan Gee: Sim, claro que me sinto assim também! Eu sei que é fácil dizer, mas de verdade sinto uma conexão espiritual com o Brasil, do fundo do coração e sempre que chego no Brasil sou recebido como se fosse da família, portanto é como se fosse minha segunda casa. Isso se solidificou desde a primeira vez que visitei o Brasil. Fui para Salvador, Bahia, um lugar que me remeteu muito à cultura africana, desde então eu sempre digo que se um dia eu deixar a Inglaterra será para morar lá.

Drumnbass.com.br: A V Recordings completou 20 anos, no ano passado. Como é estar em um mercado independente por tanto tempo, sem perder a essência e mantendo o sucesso?
Bryan Gee: Eu ainda não acredito que a V Recordings está no mercado há 20 anos, eu nunca imaginei isso quando comecei a 20 anos atrás, o tempo passou tão depressa, é como dizem “o tempo voa quando estamos nos divertindo” e eu ainda estou.

Quando começamos, nossa preocupação nunca foi em fazer ou manter o sucesso, pois fazemos isso porque amamos a música. As músicas que lançamos nunca seguiram o que estava acontecendo, nós sempre nos preocupamos em fazer com que nossos ouvintes sentissem a mesma vibe que nós sentimos, é música simples que nós gostamos de ouvir, e é assim que funciona há 20 anos, mesmo com alguns selos que lidam com diferentes estilos de música, nosso objetivo é o de criar um som que mesmo, pesado, liquid, jungle deep ou Jump up, seja possível se sentir essa vibe.

Drumnbass.com.br: Esta conexão com o Brasil foi muito importante tanto para o selo quanto para os produtores. Comparando as duas gerações brasileiras do D&B de 15 anos pra cá, quais as diferenças entre elas de acordo com a V Recordings e seus sub-selos?
Bryan Gee: Fazer esta conexão desde a primeira vez em que cheguei aqui, foi muito importante. Para solidificar as bases do que esta acontecendo agora no Brasil, com grandes novos produtores como: Level 2, DJ Chap, L-Side, Duoscience, Simplification & Translate, Critycal Dub, Nitri e a lista ainda é grande, tem muita gente nova chegando e conquistando seu espaço no cenário mundial.

Eu me lembro de quando o DJ Andy chegou e me disse "Ei, eu tenho novas tunes de alguns caras novos”. Esses caras eram Critycal Dub e Acuna e a partir deles, o Thiago Borges me apresentou ao Level 2 e sua música “Going Back”, que provavelmente não seria lançada senão fosse por Roni Size que insistiu para que eu a ouvisse, ouvi, e gostei muito, então lancei no selo Liquid V e meio que escrevi um novo capítulo da história da V Recordings no Brasil, que nos últimos anos tem lançado a maioria dos novos produtores brasileiros, não só a V Recordings, mas também pela Liquid V e Chronic.

A diferença agora é que cada vez mais pessoas estão sendo produzidas e compartilham mais idéias. Agora não é tão fácil reconhecer as músicas do Drum And Bass Brasileiro como antes, antes as músicas eram marcadas com Break de samba ou percurssão brasileira etc. Hoje a música brasileira evoluiu, mas ainda tem aquele "Brilho Brasileiro", como eu gosto de chamar, qualquer que seja o tipo de Drum And Bass sempre tem um brilho que só a vibe brasileira possui, não existe isso em nenhum outro lugar do mundo.

Além disso o Drum And Bass do Brasil não e tão diferente do que ouvimos na cena internacional. Outra coisa que eu percebi é que muita das músicas do Brasil soam como na era DJ Marky & DJ Patife e agora tem muita novidade como: DJ Chap, Duoscience e Subsid.


Drumnbass.com.br: Num mundo tão globalizado, muitos produtores pensam em lançar somente nos selos já conhecidos no mercado para aumentar a credibilidade. Este é o melhor caminho para a produção musical?
Bryan Gee: O mais importante para mim é trabalhar com um selo que acredita no que você está fazendo, onde você quer chegar é o mais importante que dê o suporte necessário para a sua música, sim, é muito legal estar em um selo grande ou conhecido, mas trabalhar e se relacionar com as pessoas certas que amam sua música, me parece mais importante. Eu penso que é importante encontrar o selo certo e trabalhar com pessoas que possibilitem o investimento do selo no artista e que também pense no futuro onde o artista possa trabalhar com diferentes selos, mas nesse caso, este artista pode não contar com um suporte extra, que é importante. Como contratante o selo irá colaborar com o lançamento se o artista não é exclusivo, já se ele for um artista exclusivo este contratante estará mais preparado para investir em um projeto com propaganda, vídeos ou remixes, desta forma é mais fácil pensar nisso como um projeto a longo prazo.

Drumnbass.com.br: É fácil imaginar que a sua “Caixa de Entrada” esteja cheia de músicas vindas do mundo todo. Sendo A&R, como você seleciona o repertório, como você analisa o artista antes que ele entre para o selo? Entre os produtores brasileiros, qual deles se destaca no momento?
Bryan Gee: Sim, nós recebemos muitas músicas o que leva muito tempo para analisa-las, as vezes a gente escuta coisas que já foram lançadas, já que muitos artistas mandam suas músicas para diferentes selos ao mesmo tempo, o que eu acho frustrante, outras vezes, é possível avaliar uma música instantaneamente, já outras, é preciso ouvir mais de uma vez, e assim por diante.

Eu gosto de colocar todas as faixas novas em minha "Pasta do Aim", coloco-as no meu Ipod e no caminho para as festas, escuto todas. Como o caminho para as festas leva geralmente uma ou duas horas, dá tempo de escutar todas as músicas que eu recebo em uma semana.

Além de todos os produtores brasileiros que eu trabalho durante os últimos dois ou três anos, é difícil fazer uma lista, por exemplo dos onze melhores jogadores para a Seleção Brasileira, pois vocês são muito talentosos (É melhor deixar isso para o Felipe Scolari !!!), posso dizer o mesmo para os produtores de DNB do Brasil, vocês estão no lugar certo!

Drumnbass.com.br: Para terminar a nossa entrevista, gostaríamos de perguntar algo que já perguntamos para outros donos de selos, sobre Drum And Bass, que é considerado um "novo" estilo, se comparado à outras vertentes eletrônicas. Esta troca é muito importante para que possamos exportar música para o mundo. Mesmo que o Drum And Bass brasileiro não tenha se estabilizado (nós ainda dependemos de atrações internacionais para sustentar um evento, mesmo que o Line Up esteja cheio de produtores qualificados). Quais soluções você sugeriria para nós brasileiros construírmos uma cena melhor?
Bryan Gee: É fácil olhar para o que está sendo lançado fora e esquecer que em casa temos muita coisa boa, é assim também em Londres, aqui dizemos que "A grama do vizinho é sempre mais verde do que a nossa", portanto sim, é bom ter atrações internacionais, mas vocês não podem se esquecer de que vocês têm muito talento chegando e é só uma questão de tempo para que estes novos talentos comecem a lançar hits que irão engrandecer seus nomes e estes exportarão suas músicas para a Europa, Estados Unidos e outros vão se inspirar e ver que podem fazer a diferença, e assim surgirão os novos DJ´s Patife, Andy, Marky, S.P.Y etc.
Assim as pessoas irão perceber que não é necessário procurar seus ídolos em outros países, pois também tem muita coisa boa no Brasil.

Drumnbass.com.br: Muito obrigado por participar. É sempre um prazer recebe-lo em nosso país; Você é tão brasileiro quanto nós! Por favor, deixe sua mensagem para todos os Junglists! :)
Hello Brasil, aqui é o seu filho Bryan Gee, muito entusiasmado em voltar pra casa. Mal posso esperar para chegar e encontrar todos os meus amigos.
Sinto falta da picanha e daquele suco de laranja com abacaxi que só é bom no Brasil, hummmm. Mas o mais importante é que mal posso esperar para chegar e trazer muitas músicas novas, é sempre muito bom estar no Brasil e tenho certeza que dessa vez não será diferente, Cuidem-se e nos vemos no dia 28. Bye